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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

PRECONCEITO RACIAL, A ESCOLA E O PROFESSOR.

ANA LÚCIA LOPES

Antes das considerações acerca da relação entre o preconceito racial, a escola e o professor, é preciso ressaltar que a escola é uma instituição social e, portanto partilha dos valores e práticas da sociedade a qual pertence e que seus professores são, antes de tudo, cidadãos formados por essa mesma sociedade. Portanto, não se trata aqui de culpar a escola e os professores pela perpetuação de práticas racistas que ocorram, mas de refletir sobre o papel da escola e dos professores na transformação dessa situação. Por isso mesmo, cabe tomar contato com os efeitos mais próximos, porém não menos profundos que enfrentam as crianças e os jovens negros no espaço escolar.
O preconceito racial se manifesta na escola não apenas pelas expressões racistas entre alunos ou entre professores e alunos, mas também pela omissão e pelo silêncio quando essas situações ocorrem ou, ainda, pelo mesmo silêncio e ocultamento da imagem do negro como imagem positiva e, na contra partida, pela super-representação da imagem do branco.
O aprendizado na escola não se restringe aos conteúdos dos programas curriculares e se dá de diferentes formas. A criança precisa de modelos para aprender: aprende-se o que está posto socialmente para ser aprendido, sejam princípios, valores ou conteúdos das áreas de conhecimento. O aluno sempre aprende, inclusive com o que o professor faz com o outro, O professor é a figura que, na escola, legitimada pelo saber, tem a função de proporcionar conhecimentos. Para deixar mais nítida a função do professor no plano da sociabilidade e, nesse caso, nas relações informadas pelo preconceito racial, pode-se dividir em duas as situações de intervenção do professor:
1.Situações ocorridas de cunho discriminatório;
2.Encaminhamentos da relação professor-aluno no sentido da eqüidade de atenção e valorização de alunos negros e brancos.
No primeiro caso, se ele se omite diante de manifestações de preconceito, ou se ele as expressa, que mensagem estará passando para os alunos que sofrem e para os que manifestam o preconceito racial? Ele se torna um elemento naturalizador do preconceito, pois, ao invés de constrangê-lo, ele o reforça.
O professor enfrenta cotidianamente as mais diversas situações de conflitos que ocorrem entre alunos, por que então, segundo depoimentos dos próprios professores, é tão difícil encaminhar as situações de cunho racista? Quase sempre a solução por eles encontrada é a de não tomar conhecimento, achando que é melhor deixar quieto.
Esse é um argumento usual entre os professores é melhor deixar quieto para não provocar mais problemas. Muitas são as razões que estão envolvidas nesse tipo de encaminhamento e não é possível analisá-las neste espaço, porém podemos localizar, no sentido de auxiliar a nossa reflexão, alguns motivos que estão na base desse evitamento em tratar das situações que envolvem a manifestação do preconceito racial entre os alunos.
Depoimentos de professores negros afirmam dificuldade em lidar com a situação discriminatória porque temem que seus colegas professores, alunos  ou pais envolvidos no conflito venham a atribuir a sua condição de ser negro o fato de ter encaminhado uma situação que não parecia tão grave assim. Outros professores negros afirmaram sentir-se paralisados frente a essas situações, pois se sentiam remetidos a experiências pessoais o lhes que dificultava uma atitude isenta ou os deixava impotentes frente ao acontecimento.
Alguns professores brancos diziam que não sabiam o que fazer e por isso era melhor deixar quieto para não despertar mais coisa ainda, embora fossem contra qualquer tipo de preconceito e tivessem atitudes propositivas em relação ao outros tipos de conflitos.
Nunca ter observado tais atitudes em seus alunos foi comentado por diversos professores brancos. Na perspectiva do aluno que foi objeto de situação discriminatória, seja por meio das famosas brincadeiras, de agressão verbal ou gestual, a omissão do professor ou a desimportância dada ao acontecimento reforça o preconceito e possibilita novas ações preconceituosas.
Quando há uma interferência adequada o preconceito racial é inibido e o aluno que foi discriminado sente-se respeitado pelo professor, sente-se visto. Quanto ao aluno que discriminou a sua aprendizagem se refere tanto no nível do respeito, quanto na percepção de que o professor não é conivente com o racismo. Esse é um grande aprendizado.
As manifestações racistas, no espaço escolar, acontecem muitas vezes, em situações tão cotidianas, que é preciso estar atento para enxergá-las. Dar espaço para que as situações possam ser faladas e enfrentadas é um caminho possível de superação dessas experiências.
Uma outra e grave observação feita por alunos e professores negros e mestiços, em pesquisas sobre o tema (LOPES, 1 997 e 2006), e que, sem dúvida é mais difícil de ser demonstrada é a que se refere ao tratamento desigual dado aos alunos negros e ou mestiços pelos seus professores. O registro dessas situações é inúmero e quase sempre se referem as três dimensões de manifestação do preconceito: a estética, a moral e a cognitiva ou intelectual.
Essas diferenças se remetem a atenção dispensada pelo professor, que em muitos casos não acredita na capacidade do aluno negro; a atitudes de afastamento do aluno negro e proximidade do aluno branco, por exemplo, professores que cumprimentam com beijos ou com outra manifestação afetiva somente os alunos não negros, entre outras situações cotidianas, percebidas principalmente pelos alunos negros.
A eqüidade da atenção do professor traduzida pelo tratar a todos igualmente, diz para os alunos que existe uma expectativa positiva em relação ao desenvolvimento de suas competências. Sentir-se objeto da crença do professor é fundamental para o desenvolvimento escolar.
É preciso que o professor esteja aberto para perceber a sua atuação, pois, de fato, a “naturalização” das desigualdades étnico-raciais no Brasil opera de modo eficiente, dificultando um olhar mais cuidadoso sobre os resultados dessas desigualdades nas práticas de cada um e no sistema educacional.

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